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quinta-feira, 23 de outubro de 2014
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
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segunda-feira, 6 de outubro de 2014
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
UM PEQUENO NABOKOV
Um pequeno Nabokov
Por paradoxal que pareça levei uns
dois anos para ler este pequeno livro de treze contos de Wladimir Nabokov com pouco mais de cento e cinquenta páginas.
Era um livro
que não fluía; um pouco pela forma, um pouco pela temática. Lia um conto e
estranhava. Parava e só retomava dias ou meses depois. Mas não era ruim.
Cada conto
de “Detalhes de um Pôr-do-Sol” é
como um ovo estalado no óleo quente: intenso e definitivo. Nabokov nos joga
cada um sem muita explicação, sem muito enredo e sem muito mistério. Inteiro e
finito.
Os contos
foram escritos entre 1924 e 1935 em Berlim por um Nabokov ainda jovem, recém
emigrado da Rússia após a Revolução de 1917
empobrecido e foram publicados em jornais de Riga, Berlim e Paris ajudando no sustento do autor.
A linha
condutora dos contos é um sentimento de grande angústia temperada de ausências
e perdas. Após a Revolução Nabokov teve que abandonar o seu país e isso o
marcou profunda e permanentemente. Nos seus escritos percebe-se uma silenciosa
nostalgia da Rússia.
No primeiro
conto, que dá título ao livro, o autor narra que Mark e Klara iam se casar em
uma semana. Retorna um antigo amor de klara. Mark, pega o bonde, feliz ao final
do expediente. Pula para descer. Cai e é
atropelado. “...quando se despediu do amigo, o clarão de um pôr-de-sol avermelhado
inundava a vista do canal...”. Morre. O autor descreve e reflete sobre
a morte. Mark não vê Klara, que já está com outro. E é isso. Fica o silêncio.
Em “Um Mau Dia”, Berlim, 1931 – ainda na Rússia, meninos vão para um sítio no interior.
Peter e a irmã mais velha. Os primos vão brincar. É chato para Peter. Brincam
de se esconder. E se esquecem de Peter.
Depois, um menino que descobre na
escola que o pai vai participar de um duelo. Ao final, o duelo não acontece. E
o menino desanda a chorar.
Em “O Retorno de Tchorb” de novo a presença da ausência: Tchorb sai em
lua-de-mel pela Europa. A sua jovem
mulher morre eletrocutada em uma pequena estrada em Nice. Ele trabalha a perda
não contando para ninguém. Resolve retornar pelo trajeto que haviam feito
juntos pela Europa. Num hotel vagabundo dorme com uma prostituta. É seu último
desafio: dormir no mesmo hotel de sua primeira noite com a sra. Tchorb.
“O Passageiro”
– Escritor conta a um crítico uma história em uma viagem de trem. Numa outra
viagem, numa cabine dupla, um homem chega de madrugada. O escritor só vê o seu
pé na escada do beliche. O homem chora toda a noite. O escritor nunca soube o
motivo, e nem nunca viu o rosto daquele homem.
Na “Carta que nunca chegou a Rússia” o homem emigrado em Berlim
escreve carta contando impressões de seus dias e suas melancolias a uma
ex-namorada de São Petersburgo. Fala de sua solidão, e dos emigrados, em
Berlim. “Sinto a alma tão leve que às vezes me divirto olhando as pessoas
dançarem no café do bairro. Muitos dos meus companheiros de exílio denunciam
indignadamente ( e nessa indignação há uma pitada de prazer) as abominações que
estão hoje em voga, inclusive as danças atuais. Mas a moda é a expressão da
mediocridade humana, um certo padrão de
vida, a vulgaridade do que é igualitário, e denunciá-la significa admitir que a mediocridade pode criar alguma coisa
(seja uma forma de governo ou um novo penteado) digna de nossa atenção...”
No “Reencontro” Lev, emigrado da Rússia em Berlim tem notícia da
chegada de seu irmão Serafim que havia ficado e agora viajava em uma missão
oficial. Ficaria por um dia. Era Natal. Fazia dez anos que haviam se separado.
Encontram-se. Não tinham nada para falar. Era uma cena patética.
“A campainha da porta”. Homem (soldado) sai da Rússia. Viaja pelo mundo. Depois de
sete anos vai procurar a mulher amada em Berlim. Era russa. Na realidade a
mulher é a mãe dele. Acha a casa dela. Conversam. A mesa estava posta para
dois. Alguém bate na porta. Um silêncio constrangido. Não abrem. Despedem-se
por mais um ano.
Assim, os contos nos deixam um pouco
aturdidos. Pela sutileza de algumas construções, pelo humor erudito, pelo apelo
ao inusitado, seja no conteúdo quanto na forma, já transparece o traço e a
inquietude do gênio. Estava nascendo um grande escritor do século vinte: num
dos contos, ao olhar nos olhos de um menino na rua pensa: “vi, de relance, as lembranças
futuras de alguém”.
“Detalhes de um pôr-do-sol” é um livro que retrata um pouco da tragédia pessoal
escondida nos silêncios de cada vida humana. Uma tragédia lenta, chorada “pra
dentro”, melancólica. Uma trajetória de perdas, de enganos e de desencontros.
Mas também pode vislumbrar uma silenciosa e melancólica esperança, um fio tênue
de amor a existência. Uma alegria. Alguns raios de sol vermelhos. “...e
os passageiros foram brindados com o cheiro penetrante de campos
recém-ceifados, o rangido ponderoso das
rodas e a visão fugidia de saudades e margaridas murchas em meio ao feno...”.
“quando se viaja como ele viajava, a
gente se esquece dos nomes do tempo, que são expulsos pelos nomes dos lugares.”
“... os pensamentos de uma mulher
quando apoia o queixo na mão...”
“...Tal como a maioria das pessoas
que lêem pouco, tinha uma afeição servil pelos dicionários...”
Sim, de fato, já é um Nabokov.
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