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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
A CASA DE TARKOVSKI
Andrei Tarkovski
(1932-1986) foi um grande do cinema
russo (ou soviético), para muito além do “Realismo Socialista”, da crítica
dissimulada ou do elogio bajulatório; tampouco da produção bem comportada.
Num tempo difícil, de
poucas liberdades criativas e de grandes riscos para o artista Tarkovski
produziu uma obra de gigante, nem tanto pela quantidade, que foi pouca, mas
pela qualidade e pelo refinamento.
Graduado em 1960 pelo
Instituto Estatal de Cinematografia VGIK de Moscou no curso de direção de
cinema seu primeiro filme, como experimento de graduação, foi “O Rolo
Compressor e o Violinista”, bem diferente do que produziria posteriormente, mas
já revelando a qualidade do cineasta e sua temática preferencial: a condição
humana.
Tarkovski é um
diretor-autor difícil; muito difícil. Em alguns momentos nos leva a exaustão.
Noutros apenas nos leva. Seus filmes são em geral reflexivos, cinzas, lentos e
horizontais, sobretudo, profundos.
Penetram no íntimo da alma russa e desse ponto se universalizam. É fato
que a Rússia e os russos são motivo de curiosidade universal. Afinal, quem
mesmo é esse povo que viaja ao espaço, que venceu Napoleão e possui o melhor
ballet do mundo, e ao tempo de Stalin matou a si próprio aos milhões?
Tarkovski é um rebento
moderno da alma (quase eterna) da quase eterna Rússia já desvendada nos
“Vagabundos” de Gorki, nos “Tios Vânia” de Tchekhov ou pela profunda angústia
dostoiévskiana.
“Melancolia de Moscou”
(1987) é o título do filme documentário que acabo de assistir de Alexander
Sokhurov (1951) que relata, eu diria mergulha, na vida de Tarkovski nos seus
últimos dias neste planeta.
Usando da mesma
linguagem consagrada pelo grande diretor, Sokhurov, talvez seu maior discípulo,
centra sua lente no momento em que Tarkovski acaba deixando a União Soviética
em 1982, num autoexílio, e produz seus primeiros filmes no ocidente
(“Nostalgia”, na Itália e “Sacrifício”, na Suécia). “Nostalgia” fala da jornada
de um poeta russo frustrado e deprimido à Itália onde procura compreender sua
angústia e o segredo da sua impenetrável nostalgia. Como todos os filmes de
Tarkovski, muito de autobiográfico.
Sokhurov penetra a
alma de Tarkovski num diálogo de imagens ao mesmo tempo em que resgata momentos
da história soviética recente que são o cenário de fundo da vida do cineasta. E
mescla tudo isso com os primeiros passos e as primeiras filmagens de Tarkovski
na Europa do Ocidente.
Não é um documentário
no sentido clássico (embora seja tênue a distinção entre documentário e
ficção), nem é um filme baseado em algo nem uma ficção. É um fixar a lente e
tentar seguir os passos de Tarkovski, encontrando suas pegadas na Rússia e na
Europa, olhando pelas janelas que ele olhava, sentindo o vento frio que batia
nas vidraças e que cortava os caules das bétulas de sua infância. Sokhurov
penetra também em seu país, na sua rua, a Ulitsa Mosfilm, na sua Moscou, no seu
apartamento, na sua casa e na sua lente.
Considero Tarkovski
indecifrável para um que conhece pouco as coisas da Rússia, em que pese a universalidade
de filmes como “Solaris”, “O Espelho” e “Stalker”. Filmes difíceis sem dúvida,
mas universais; diferentes um pouco de “Andrei Rublev” que narra partes da
história da Rússia de um modo meio psicodélico, meio exasperado, meio trágico,
como toda a história daquele país.
Com “Nostalgia”,
produzido na Itália, Tarkovski prova que a genialidade não tem fronteiras, não
tem idiomas nem ideologias. O gênio acha e constrói o seu território.
O fato de não ser um
crítico ou especialista em cinema me isenta de uma análise mais acurada da
técnica, mas a minha condição de vivente atento me permite constatar a
densidade da obra deste diretor-poeta Andrei Arsienevitch Tarkovski; um gênio
com G maiúsculo, que consegue traduzir e projetar na tela a profunda nostalgia
de um povo e fazer dela ressonância à nostalgia de todos os povos. Sem rupturas
e sem discursos.
Tarkovski, por sua
produção e por sua contribuição à construção de uma nova e original linguagem
cinematográfica se coloca ao lado de outro gigante russo e universal, Sergei
Eisenstein.
Recomendo.
NOSTALGIA DE MOSCOW (MOSKOVSKAYA ELEGIYA)
DIREÇÃO: ALEXANDER SOKHUROV
IDIOMA: RUSSO
ANO DE PRODUÇÃO: 1987
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
Navegando pelo Volga na Primavera
"O barco costeia a margem alta. À esquerda o rio alarga-se, submergindo a riba arenosa coberta de
pradarias. Vêem-se subir as vagas que salpicam e sacodem os bosques, enquanto das fendas e
ravinas, torrentes claras das águas primaveris rolam ruidosamente ao seu encontro. O sol sorri, e
reflete-se na plumagem de aço polido das gralhas de bico amarelo que grasnam, azafamadas na
construção dos ninhos. Nos lugares mais quentes, uma verdura vicejante brota da terra, seduzida pelo
sol. O corpo tem frio, mas uma doce alegria penetra na alma e claras esperanças nascem nela em
rebentos frágeis. É bom viver na terra na Primavera."
Maximo Gorki - As minhas universidades
pradarias. Vêem-se subir as vagas que salpicam e sacodem os bosques, enquanto das fendas e
ravinas, torrentes claras das águas primaveris rolam ruidosamente ao seu encontro. O sol sorri, e
reflete-se na plumagem de aço polido das gralhas de bico amarelo que grasnam, azafamadas na
construção dos ninhos. Nos lugares mais quentes, uma verdura vicejante brota da terra, seduzida pelo
sol. O corpo tem frio, mas uma doce alegria penetra na alma e claras esperanças nascem nela em
rebentos frágeis. É bom viver na terra na Primavera."
Maximo Gorki - As minhas universidades
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