Impressões sobre a Ucrânia
É bom lembrar que a
Ucrânia é a terra dos Citas e dos Cossacos, de Chernobil, da Criméia e da
Guerra da Criméia, de Gogol e de Taras Bulba, da Catedral de Santa Sofia, de
Sebastopol e de Odessa. (Nas escadarias do porto de Odessa foi filmada uma das
mais famosas cenas da história do cinema mundial de um dos filmes mais
importantes da história, “O Encouraçado Potemkim”, de Eisenstein. Na cena
acontece o massacre de populares por tropas czaristas e um carrinho de bebê
começa a descer a escadaria desgovernado.
A Ucrânia é o maior território da
Europa (excetuando-se a grande Rússia) e tem as melhores e mais produtivas
terras, as chamadas “Terras Negras”, que no tempo da invasão nazista eram
transportadas em vagões de trem para a Alemanha.
A Ucrânia fica no centro da Europa,
ou melhor, divide (ou liga) a Europa Ocidental com a Rússia e com a Ásia. Do
mesmo modo é rota importantíssima de ligação do norte (o Mar Báltico) com o sul
(o Mar Negro). Historicamente os Vikings vindo do norte (da Suécia e
Escandinávia), antes do ano 1000, trilharam este caminho via rio Dniepr para
chegarem ao Mar Negro e ao então Império Bizantino. No caminho deixaram
aldeias, cidades e principados. No seu caminho estava Kiev, que floresceu e
tornou-se uma das mais importantes cidades do primeiro milênio.
Em Kiev nasceu a Rússia; a chamada
Rus de Kiev (da religião Ortodoxa, de Santa Sofia, do alfabeto Cirílico), que
mais tarde, devido a divisões e a invasão dos Mongóis (ou Tártaros como eles
chamam) transferiu seu centro para a região de Moscou. De fato, a grande Rússia
nasceu em Kiev, que foi a sua primeira capital, e esse é um dado primacial para
se compreender aquela região.
Como se diz que “o Egito é uma dádiva
do Nilo”, pode-se dizer que Kiev e a Ucrânia (e quiçá a Rússia) são uma dádiva do Dniepr.
Uma vasta região, um vasto rio,
planícies abertas, fronteiras abertas, terra fértil, deram a configuração
básica da Ucrânia. Foco de disputa e de ocupação de vários povos (Ucranianos,
polacos, lituanos, búlgaros, teutônicos, turcos, mongóis-tártaros, cossacos,
vikings, russos...) a Ucrânia, pela primeira vez é uma Nação independente; até
1991 fora uma República Soviética sob o comando de Moscou. Há pouco mais de
vinte anos vem tentando construir uma identidade e um caminho próprio numa zona
tão delicada e centro de tantos interesses.
A Ucrânia, neste contexto, necessita
muito mais de diplomacia do que de armas para poder construir um equilíbrio mais
perene e poder desenvolver todo o seu potencial.
Sem dúvida Ucrânia e Rússia são povos
irmãos, por constituição básica; precisam uns dos outros, embora tenham também
em história recente atritos e crueldades. (o regime soviético foi muito duro
para a Ucrânia).
Também a Ucrânia, celeiro da Europa,
não pode prescindir de suas relações com o Ocidente. Europa e Ucrânia respiram
do mesmo ar. Seus povos e economias são muito interdependentes.
O que vi, passando alguns dias neste
país, foi justamente isso, um país jovem, paradoxalmente com uma história
milenar, formado por pessoas fortes, com jovialidade para construir uma
identidade de Nação e um espaço próprio e autônomo. Muitas iniciativas novas no
campo empresarial, cultural, turístico, social e institucional. É um país em
construção.
Um povo alegre que busca em suas
sólidas raízes culturais a força para se projetar com grandeza no futuro.
Querem mostrar quem são; Querem mostrar que são capazes; querem olhar de frente
os seus “irmãos do norte” como chamam os russos e os seus irmãos do oeste.
Querem retomar a força de Kiev que já foi maior que Paris e Londres juntas.
E eles tem o Dniepr, de águas escuras
e geladas, e de uma força impressionante, que apenas tocada transforma tudo. E
eles tem Vitolga...