A Rússia antes da Rússia.
Sendo a Rússia um país milenar e o
maior território do planeta é muito difícil traçar uma história linear e que
contemple a diversidade de povos espalhados por sua imensidão territorial ao
longo do tempo.
Convencionou-se então a abordar a
história deste país a partir do sul, da zona das estepes, da região de Kiev, da
proximidade com a Europa, do Cáucaso, da Criméia e do Dniepr.
Diz-se que os primeiros povos a habitarem
os campos russos foram os citas (da Cítia), no século IV AC, um povo formado
por iranianos e chineses, exímios cavaleiros, comerciantes e artesãos que,
devido às guerras e dispersões acabaram desaparecendo enquanto povo.
A vasta região então, como caminho do
oriente ao ocidente (um dos caminhos da famosa “Rota da Seda” passava pelo que
hoje é o sul da Rússia) tornou-se um espaço de passagem, de guerras, de
disputas e conquistas entre povos como os Pechenegues, os Kasares, Eslavos,
Búlgaros, etc.
No século V, da era cristã, é fundada
às margens do rio Dniepr a cidade de Kiev (hoje capital da Ucrânia) que quase
quinhentos anos depois se tornaria a primeira capital do que, ainda depois,
seria o Estado Russo.
Além de região de ligação entre o
oriente (China, Índia) com o Ocidente Europeu, essa região também foi rota
Norte-Sul (via rio Dniepr) servindo de passagem aos guerreiros e comerciantes
Vikings (suecos, escandinavos) rumo ao rico e desenvolvido Império Bizantino,
de capital Bizâncio ou Constantinopla, atual Istambul na Turquia. Esses duas rotas
marcaram a constituição inicial da futura Rússia.
(Os Vikings)
Ao norte, próximo a atual São Petersburgo, também se constituíram cidades como Novgorod e Pskov que, assim como Kiev, serviam de entreposto e lugar de abastecimento dos navegantes Nórdicos (Vikings). Eles dominavam o norte europeu e que se deslocavam via o Mar Báltico, o rio Neva e o Dniepr ao sul, até Constantinopla.
Quando em busca de proteção e
fortalecimento a cidade de Novgorod busca o príncipe nórdico Riurik em 862 para
ser seu governante e em seguida, a partir dele, une-se a Kiev em 882, nasce a
primeira Rússia, a chamada “Rus de Kiev” que em poucos séculos se tornará o
maior país do mundo.
(Príncipe Riurik)
Neste período (séculos IX e X) a
Rússia deixa a sua pré-história de tribos e clãs, de fronteiras abertas e
frágeis e passa a se constituir em um Estado unificado, que busca se consolidar
e expandir.
Esse é um período em que também o
restante da Europa mergulhava num momento difícil, tentando se recompor do fim
do Império Romano. É tempo de Carlos Magno na França e da tentativa de retomada
do esplendor da antiga Roma.
A Europa vive o período do Feudalismo
e da Idade Média em que o conceito de Estado Nacional não significava muito. Os
reinos e principados imperavam, bem como a Igreja Católica buscava se
fortalecer e se consolidar em seus mosteiros.
A “Rus de Kiev”:
A Rus de Kiev nasce com os olhos
voltados para o Império Bizantino que, neste período do século IX vivia a sua
Renascença. Constantinopla era um grande centro comercial, religioso e
cultural, herdeiro das grandes culturas grega e romana da antiguidade. Vale
dizer que o Império Bizantino era considerado a “Segunda Roma”. Quando o
imperador Teodósio dividiu o império em Império Romano do Ocidente, com sede em
Roma, e Império Romano do Oriente, definiu a capital do segundo como Bizâncio.
Com a queda do Império Romano em 476,
em função das invasões bárbaras, Bizâncio se torna a única sede do Império que
perduraria ainda, a partir daí, por mais mil anos, até 1453.
Na sua consolidação enquanto Estado a
Rus vai buscar no Império Bizantino as suas referências. Assim, são enviados
sábios a Constantinopla para estudarem e criarem um alfabeto para a Rus. Os
bizantinos falavam a língua grega. Dessa maneira nasce o alfabeto Cirílico (dos
sábios Cirilo e Metódio) usado até os dias de hoje pelos russos e alguns outros
povos.
Ainda nos séculos IX e X a Rus de Kiev
e Constantinopla assinam seu primeiro tratado de comércio e relações. E a Rus
de Kiev para ser respeitada no cenário internacional procurou se filiar a uma
religião reconhecida, superando o paganismo e as crendices. E é nos bizantinos que
a Rus busca a sua religião.
O príncipe Vladimir e a conversão da Rússia
No ano 988-89 o príncipe Vladimir,
descendente de Riurik, converte-se ao cristianismo ortodoxo de Bizâncio,
levando assim toda a “Rus” à conversão. Mas a intenção de Vladimir não era
apenas converter-se, e sim incorporar para a “Rus” os avançados aspectos da
cultura bizantina. E assim foi feito.
Do que conhecemos da Rússia hoje, das
igrejas aos ícones, da arquitetura aos mosaicos, da língua à pintura, é
inegável a herança e influência Greco-bizantina.
Os primeiros príncipes Riurik, Oleg, Igor, Sviatoslav, Yaropolk e
Vladimir constroem as bases da unidade do Estado Russo que será consolidado
por seus descendentes. Neste período, em torno do ano 1000 D.C., ainda não se
falava em Rússia e em Czares. Mas os fundamentos da Grande Rússia já estão
presentes. Depois disso, preservar e ampliar as fronteiras até a consolidação
de um grande império levou ainda mais de 500 anos.
O que tínhamos no ano 1000 eram
cidades (talvez não se possa comparar muito com as clássicas cidades-estado
gregas) que possuíam autonomia administrativa, eram comandadas por príncipes,
tinham territórios mais ou menos definidos, Assembleias Populares (as Veches)
para decisões importantes, muralhas de proteção e, como nos romanos, as forças
militares ficavam fora dessas muralhas. Essas cidades estabeleciam alianças
entre si para se protegerem de invasores.
Também podiam chamar um comandante de
fora para lhes governar (e proteger) em períodos de ameaças externas, assim
como também os romanos nomeavam um ditador em tempos de guerra.
Para concluir, a Rússia, após este
período de conformação inicial, ainda passaria por muitas dificuldades,
divisões, guerras, invasões, até que surja o seu primeiro Czar, em torno do ano
1500.