RÚSSIA: O GIGANTE DO BRICS
Terminei há poucos dias a leitura-estudo do livro
“Rússia e a Antiga União Soviética” de Milner-Guland e Dejevsky da Ediciones
Folio-SA, Barcelona, 2007. Sim, “antiga União Soviética” pois parece que por lá
a página foi virada muito rapidamente e 20 anos se passaram como uma centelha
na história de um império milenar. O título “O Gigante do BRICS” é meu.
A leitura do livro me ajudou na visão panorâmica do
transcorrer da história russa. São quase trezentas páginas que abordam desde a
pré-história do território que hoje compõe a grande Rússia aos primeiros
povos (os Citas) que percorreram este território, passando também pelos
Vikings; a formação do Estado Russo (há uns mil anos atrás), sua adesão ao
Cristianismo Ortodoxo, e o nascimento do Czarismo.
Somado as anteriores leituras que tenho da
história deste país é possível “ligar” as pontas e as partes e entender melhor
a formação do Estado Russo
Não se pode dizer que é um livro analítico e
opinativo, mas principalmente descritivo. Porém, ao conhecermos um pouco mais
sobre o transcurso da história deste povo podemos compreender o papel que a
Rússia joga hoje no cenário global.
Podemos entender que não é Putin que domina a Rússia
com mão de ferro como se ouve falar na imprensa não especializada, que pouco
conhece daquele país. Tampouco Putin criou um sistema forte de governo ou uma
semi-ditadura para se perpetuar no poder.
Putin, na realidade, é um resultado do que a Rússia é e quer.
De fato, é o oposto o que se dá; e isso está escrito
na história daquela terra. Um grande país, uma grande economia, uma grande
história, um grande território, em suma, uma grande Nação, precisa encontrar ou
gerar um grande político que tenha a real compreensão da grandeza deste povo e
do papel histórico que desempenha; e faça o que precisa ser feito. E isso nem
sempre é muito simpático.
A Rússia vive uma democracia, a seu modo, como nunca
havia vivido em toda a sua história; e precisa de um governo forte que dê
tranquilidade, segurança e estabilidade para seu povo trabalhar e viver.
A Rússia é um grande pólo de interesses domésticos,
regionais e globais. E “domésticos e regionais” para a Rússia pode significar
algo como um território quase do tamanho da Europa inteira. Para a Rússia não
serviria um governo como o da Dinamarca ou da Bélgica. Não basta para ela um bom
governo ou um governo democrático, honesto e transparente. É preciso um governo
que conduza o maior território do planeta. O país de Pedro e de Catarina, “os
grandes”.
É preciso lembrar que o povo russo venceu os
teutônicos, os suecos, enfrentou os turcos, expulsou os mongóis e, mais
recentemente derrotou Napoleão e o fez recuar desde Moscou até Paris. (a
palavra “bistrô” é uma herança russa deixada aos franceses e significa “rápido”
na língua original). Depois, venceu o exército nazista de Hitler que havia invadido seu território fazendo-o recuar até Berlim. E os russos ocuparam Berlim dando
fim a Segunda Guerra Mundial (que para os russos se chama a II Grande Guerra
Patriótica – a primeira foi aquela contra Napoleão, pois defendiam diretamente
o seu território, a sua pátria).
Além de tudo isso, por ser a detentora do maior
território do planeta (quase três vezes o tamanho do Brasil) possui
imensuráveis riquezas naturais como petróleo, gás, ouro e todos os tipos de
metais, além de florestas, mares, grandes rios, etc. que precisam ser
administrados e protegidos. Ainda, é detentora de alta inteligência científica,
indústria bélica, automobilística, espacial, e pesada.
No campo cultural possui o maior museu do mundo (o
Hermitage), e deu ao mundo uma infinidade de nomes como Dostoiévski, Tolstói,
Tchekov, Puschkin, Pasternak, Maiakóvski e tantos outros nas letras como também
Akhmatova. Na música, Tchaikovski, Glinka, Mussorgski, Stravinski, e tantos
mais. E assim no teatro, nas artes plásticas (kandinski, Chagal, etc.). E no
balet. O balet é um capítulo à parte; basta citar o Lago dos Cisnes. A Rússia é
a pátria do balet e renovou esta arte no mundo (com Diaguilev, Balanchine, Nijinski).
A Rússia por sua grandeza detém interesses tão grandes
como a Transiberiana, a maior ferrovia do mundo, que vão do Oriente Médio à
China (a antiga Rota da Seda passava por território Russo), da Escandinávia ao
Mar Negro (por onde circulavam os antigos Vikings), dos Urais ao Cáucaso. O que
acontece com a Rússia interfere no planeta inteiro; basta analisar o impacto da
Revolução Russa de 1917 em todo o século XX.
Agora temos o problema do Mar do Norte, da Síria e finalmente da Ucrânia. Se
os americanos entram na Síria é possível uma reação forte da Rússia (por isso
ainda não entraram). A Ucrânia tem laços milenares com Moscou. E o Mar do Norte é quase uma extensão natural do
território russo. Eles estão mais avançados lá e possuem a melhor tecnologia
(como navios quebra-gelos e plataformas) para explorar por exemplo o petróleo.
Além de terem a cultura do frio e do gelo. Não por acaso o Greenpeace apareceu
por lá.
Entender a Rússia é vital para entender o século XXI.
Mas de forma direta; não a Rússia pintada e retocada pelos EUA ou pela
Inglaterra que nós brasileiros absorvemos como prato requentado, assim como
precisamos entender a China (de modo direto), que é completamente diferente da
Rússia, e tem seus problemas, suas vantagens, sua cultura; e também o Brasil,
para além dos movimentos “expontâneos” de junho de 2013.
Por aí passa um pouco o futuro.
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