SOBRE O NOVO REI DA ESPANHA
(O Diário de um Louco – Nicolai
Gogol)
Um conto
definidor e definitivo, como diria um então prefeito, da trajetória de Nicolai
Gogol (1809-1852) é “O Diário de um Louco”. Neste conto o autor russo (de
origem ucraniana) conta a história de um funcionário público de São Petersburgo
que, de um dia para o outro, se descobre o novo rei da Espanha.
O
funcionário Auxence Ivanovitch era apaixonado – e ignorado - pela filha do
diretor da repartição onde trabalhava, a bela Sofia. Começa então a imaginar
situações e constrói uma lógica só sua. Imagina que se fosse um funcionário
graduado ou um general Sofia lhe daria atenção. Não se conforma com sua própria
insignificância. Um dia, estranhamente, ouve o cachorrinho de Sofia falar.
Depois descobre que ele escreve cartas. E as lê.
Ivanovitch um
dia ao ler no jornal notícias sobre a Espanha descobre que o rei daquele país,
Fernando VII havia morrido (1833) e o trono estava vago. Depois de vários dias
refletindo sobre o assunto dá-se conta que o rei da Espanha, não encontrado,
era ele mesmo. E passa a assinar “Fernando VIII”. E assim se apresenta em sua
repartição.
Daí
para frente as cenas inusitadas se acentuam até que um dia o “Rei da Espanha” é
levado para o seu país por uns homens nobres vestidos de branco. E lá é
recebido por uma estranha corte de homens, todos também vestidos de branco e
carecas. E aí é vítima de estranhos rituais da nobreza; Lhe espancam e lhe
jogam água gelada na cabeça cada vez que revela sua identidade de “Rei da Espanha”.
Lembrei-me
deste conto no dia de hoje (19/06) quando assume realmente (...) o novo rei da
Espanha em meio a uma profunda crise no reino (e não estou falando da
desclassificação da seleção espanhola na Copa do Mundo na segunda rodada,
embora isso seja também emblemático do país). A Espanha continua ainda em uma
profunda crise; desemprego de 25% e entre os jovens de 50%; isso é desolador.
Uma crise de legitimidade na própria monarquia, um papel de certa forma
secundário na União Europeia, crises políticas, ameaça de separatismo da
Catalunha e outras regiões.
A
posse de Felipe VI, e mesmo a existência de uma realeza na Espanha, não passa
de uma caricatura; uma coisa de doido. Absolutamente anacrônica e
despropositada. Digna de um conto do “realismo fantástico” gogoliano.
Gogol: Gogol é o máximo. Outro
dia escrevo mais sobre ele. Só para situar: é autor de Taras Bulba e do
Inspetor Geral.
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