VERÃO EM BADEN-BADEN
Esperando
a próxima Feira do Livro em Porto Alegre terminei a leitura de
Verão em Baden Baden de Leonid Tsípkin. (Cia das Letras. SP. 2003), aquisição
ainda da última Feira.
Tsípkin
não era escritor de ofício. Era médico, cientista, nascido em 1926 em Minski. Era judeu. Teve o pai preso em 1934
durante o “Grande Terror”. Duas irmãs e um irmão de seu pai foram mortos também
neste período. Isso lhe causou um afastamento das questões da política. Mesmo
assim foi também perseguido pelo regime soviético por ser judeu. Nunca
conseguiu sair da URSS nem tampouco publicar seus escritos.
Verão
em Baden-Baden foi escrito entre 1977-80, período da crise do Afeganistão e
publicado somente em 1982, fora da União Soviética, uma semana antes da morte
do autor.
É
um romance histórico que conta a viagem de Dostoiévski e Ana Grigorievna , sua
esposa, à Baden-Baden, na Alemanha, em
1867, onde vão para Dostoiévski jogar no cassino; No percurso o autor vai nos apresentando
a história da vida de Dostoiévski e um pouco da sua difícil e contraditória
personalidade; Cristão e viciado em jogos, genial escritor humanista que não
gostava de judeus; homem carinhoso e agressivo, decidido e dependente.
Ao mesmo tempo conta a viagem do próprio autor
de Moscou a Leningrado para perseguir os passos de Dostoiévski naquela cidade
russa onde viveu e escreveu suas grandes obras como “Crime e Castigo” e “Os
Irmãos Karamázov”. Passado e presente se misturam, assim como as duas
histórias.
“Verão
em Baden-Baden” é um livro difícil, não ruim. Pelo contrário, percebe-se nele o
labor cuidadoso do ourives. Lembrou-me um pouco a leitura de “Fogo Pálido” de
Nabokov, pela complexidade da narrativa e o paralelismo das histórias. Esse Nabokov,
um livro denso, grande e erudito, li-o até o final e não compreendi do que se
tratava; e até hoje não compreendo apesar de reconhecer sua grandeza. Mas isso
é uma outra resenha.
“Verão”
é um livro tenso, não pelo conteúdo, mas pela forma. Não tem parágrafos nem
capítulos. É uma leitura direta, chapada, e as cenas intercalam-se muito
rapidamente, sem aviso, exigindo uma atenção de tirar o fôlego.
O
roteiro não possui picos, ou seja, é horizontal; você sabe que vai ler o livro
até o final e não vai acontecer algo extraordinário. É um acompanhar os passos
de Tsípkin, de Dostoiévski e de Ana. E mesmo assim você não consegue parar de
ler. Não recomendaria.
Mas,
como eu disse antes, não é ruim, tampouco mal escrito, pelo contrário. É um
livro de certa forma para iniciados. Em alguns momentos Dostoiévski te pega
pela mão e leva para as mesas de jogos do Cassino, de onde não conseguia sair,
noutros te leva a debater com Turgueniev sobre as peculiaridades da Rússia, ou noutros te
apresenta Púshkin. E Tsípikin te puxa pela outra mão e te leva a caminhar pelas
ruas de Leningrado, visitando suas belíssimas igrejas, as casas onde
Dostoiévski viveu, os caminhos que Raskolnikov percorreu. Te faz recordar o
“Grande Terror” stalinista e o cerco de novecentos dias durante a guerra.
O
livro termina quando os caminhos do autor e de Dostoiévski se encontram em São
Petersburgo/Leningrado, na casa em que o autor de “O Jogador” morreu, onde “no
auge do inverno de Petersburgo dia de verdade não existe – o amanhecer tardio
vai imperceptivelmente se convertendo em crepúsculo prematuro”.
Fiquei com vontade de ler, Júlio.
ResponderExcluirÉ um livro meio difícil de encontrar. Posso te emprestar.
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