Moscou, ah Moscou...!
Os poucos dias que passei, e que
passamos, em Moscou mostraram-me uma cidade mais aberta e receptiva ao
estrangeiro que das outras vezes que estive lá. A força é a mesma. A grandeza é
a mesma. E contagiante. Mas, diferente de alguns anos atrás, me parece, é uma
força de certa forma libertada, desamarrada. Parece que os russos estão mais
seguros e confiantes em si mesmos. Sim, ainda mais.
Estive lá pela primeira vez em 1997,
poucos anos após o fim do socialismo. Afora o deslumbramento por tudo e pela
minha primeira grande viagem internacional, percebi um povo mais refratário ao
estrangeiro, olhando com certa desconfiança e talvez espanto. Às vezes mesmo
ignorando-nos. Não havia vitrines, quiçá lojas, os restaurantes eram quase secretos,
não se os via. As pessoas no metrô eram mais silenciosas, as fotos mais
desafiadoras (mas já permitidas). Os moscovitas eram quase impenetráveis. E
mesmo assim apaixonei-me desde o primeiro instante; desde a chegada ao
aeroporto.
Na segunda vez, em 2008, foi tudo
mais tranquilo. Deslumbrei-me com a beleza de São Petersburgo; com os palácios,
igrejas, com os canais e com o balet; com a avenida Nevski e com as Noites
Brancas. Com o povo na rua aproveitando cada minuto de sol do verão e de um dia
que se estendia até depois da meia-noite (o sol da meia-noite)... na Nevski... Um
povo já receptivo aos turistas, já um pouco mais acolhedor e curioso.
Em Moscou os velhos “Ladas” iam
desaparecendo, as luzes capitalistas se acendendo, a “Velha Arbat” se
colorindo, a Tverskaia se congestionando e a Praça Vermelha sempre cheia, mais
fotografada que a Torre Eiffel. Moscou também é bela no verão.
Agora em 2015 vi uma Moscou
cosmopolita, em franca abertura, jogando o jogo, enfrentando os desafios e
problemas advindos de uma transição muito rápida, querendo interagir com os
estrangeiros, curiosa e mais acolhedora. (numa manhã ao perguntar a um jovem
russo que passava em frente ao hotel onde ficava a estação do metrô ele me
levou até lá, pagou o meu bilhete pois eu estava chegando e ainda não tinha
Rublos, e ainda me emprestou, ou deu, 50 rublos para eu pagar a volta só pelo
prazer de saber do Brasil, do que eu fazia lá, do que eu achava da Rússia. E
eu, no meu precaríssimo russo tentei retribuir a sua curiosidade. Fiz um amigo
em minutos). Moscou está recebendo e
fazendo muitos investimentos. Hotéis, cafés, restaurantes, lojas, pontos
turísticos, galerias de arte, metrô, está tudo muito acessível.
Penso que os russos encontraram em
Putin a estabilidade e segurança para que pudessem se desenvolver em plenitude.
O russo, um povo educado e patriótico, inteligente e forte, quando de mãos
desamarradas constrói coisas grandiosas. E isso é o que vimos em Moscou em
todas as áreas: dos hotéis às igrejas, das ruas às empresas, do metrô à moderna
Moscou City, da Universidade à Tretiakovskaia Galeria.
Numa reunião com a Associação de
Empresários de Moscou, perguntado se ainda alguém sentia saudades do socialismo
o russo respondeu: “a Rússia entrou no capitalismo mas ainda guarda muitas
coisas do socialismo (as pessoas querem a segurança de um Estado forte,
interventor, protetor e que dê garantias)”. Disse que esse era um assunto para
ser debatido em outra mesa (num bar) com outro líquido (não água) sobre ela e
por muito tempo, ou seja, é um debate ainda aberto “o que se ganhou e o que se
perdeu com o capitalismo”. Mas não se fala em volta. Hoje se pode debater
livremente e o bom humor russo (sim, o russo é bem humorado, simpático) pode
ser externado francamente.
Moscou vive um ótimo momento; muito
dinâmico. E como nos disseram por lá, a Rússia passa por Moscou.
O Dia da Vitória
Foi um presente inusitado, um
acréscimo, estar em Moscou no dia nove de maio, data em que os russos comemoram
do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial (este ano comemorando os 70 anos).
Esse conflito para os russos tem um
caráter particular. Em 1941 seu território foi invadido por Hitler em três
frentes com três milhões de soldados. Os
russos resistiram feroz e heroicamente à invasão. Para eles essa guerra é
chamada de Grande Guerra Patriótica porque foi uma guerra em defesa de sua própria
existência enquanto Nação.
Vinte e cinco milhões de russos morreram
defendendo o país nos quatro anos de guerra. Venceram os nazistas e os fizeram
recuar até Berlim. Sim, os russos foram os
primeiros a entrar em Berlim em 1945, a derrotarem os nazistas e conquistarem
sua rendição, dando fim ao projeto de Hitler.
Era feriado nacional no dia 09, e
desde cedo milhares e depois milhões de moscovitas saíram às ruas para assistirem
aos desfiles militares e prestarem suas homenagens aos heróis da pátria.
Milhares levavam cartazes com fotos dos soldados, seus familiares, mortos na
guerra; de crianças aos anciões todos com um profundo respeito. Apesar do
feriado o metrô estava lotado.
Tive oportunidade de ver andando na
rua e acompanhar um veterano da resistência (certamente com mais de 90 anos)
acompanhado de sua filha. As pessoas paravam, tiravam fotos, outras muitas lhe
entregavam flores, outros batiam continência. Era quase uma veneração.
No desfile militar pude ver o
entusiasmo e a identidade que o povo tem com os seus militares.
Bem, essa é a Rússia; Um povo que se
lança seguro rumo ao futuro. Um povo forte, educado e culto, que tem exata a
noção de Pátria, que pagou um alto preço por sua liberdade e que, por tudo
isso, não tenho dúvida será (ou já é) uma peça chave na geopolítica do milênio
que recém se inicia.
O Bolshoi – ter ido no Bolshoi e na Galeria
Tretiakov de arte russa merecem um outro artigo. O metrô também; e a Praça
Vermelha também. O impacto disso tudo para o grupo de brasileiros do nosso MBA que
esteve lá também. Escreverei.
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