quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A FELICIDADE – (Alexander Medvedkine – URSS – 1934)


A FELICIDADE – (Alexander Medvedkine – URSS – 1934)

           Produzido em 1934 na antiga União Soviética é um filme que mostra, através da vida meio desastrada de um camponês pobre (um mujique), os duros anos iniciais do socialismo na URSS, particularmente o período da coletivização forçada dos campos.
          1934 era o ano do assassinato de Kirov, prefeito de Leningrado (que detonou o Grande Terror), o período da NEP (Nova Política Econômica de Lênin) já havia encerrado, milhões(ões) de camponeses mortos, principalmente na Rússia e na Ucrânia pela fome e pela repressão; Trótski já havia sido expulso do país e Stalin comandava com mão de ferro a execução de seus Planos Quinquenais e sua Economia Planificada.
          Medvedkine, um apoiador do Sistema, mostra em “Felicidade” parte das consequências das políticas estatais para o pequeno, último e mais simples cidadão da Rússia, o camponês.
          A linguagem do filme é a comédia burlesca, tipo um “Os Três Patetas”. O personagem principal vive um drama entre ter sua vida própria, do seu modo, embora desastrada, e a adesão nas então fazendas coletivas, os Kholkozes. Mostra seus sonhos de felicidade e de consumo (singelos como comprar uma roupa nova) e seu amor à terra e à justiça. É paradoxalmente um elogio e uma crítica ao sistema socialista da URSS.
         O filme é, com todas as limitações da época, de certa forma uma superprodução. Naqueles anos do socialismo Medvedkine mobilizou uma pequena equipe, montou toda uma estrutura de estúdio num trem (onde a equipe também vivia) e filmou a terra, o céu e os homens soviéticos.
         As imagens são belas, a linguagem lírica apesar do enredo burlesco, e falam sobre o trabalho, sobre o homem, sobre os sonhos e sobre as injustiças.  Em suma, faz pensar, mas sem muita racionalidade. Nos enternece.
           O enredo é muito, muito simples. Singelo. Quase ingênuo, mas que no segundo plano mostra aquela filosofia popular, tão cara aos russos, que é – quase sem dizer. Uma filosofia de um homem forte: um mujique.
      O filme é em preto e branco. E mudo. A música, fantástica, de Modest Mussorgski.

          É um filme que se pode tranquilamente passar a vida sem vê-lo. Mas, se tiver um tempinho, tudo bem. Vale a pena.