quinta-feira, 11 de junho de 2015

Moscou, ah Moscou...!















Moscou, ah Moscou...!

Os poucos dias que passei, e que passamos, em Moscou mostraram-me uma cidade mais aberta e receptiva ao estrangeiro que das outras vezes que estive lá. A força é a mesma. A grandeza é a mesma. E contagiante. Mas, diferente de alguns anos atrás, me parece, é uma força de certa forma libertada, desamarrada. Parece que os russos estão mais seguros e confiantes em si mesmos. Sim, ainda mais.
Estive lá pela primeira vez em 1997, poucos anos após o fim do socialismo. Afora o deslumbramento por tudo e pela minha primeira grande viagem internacional, percebi um povo mais refratário ao estrangeiro, olhando com certa desconfiança e talvez espanto. Às vezes mesmo ignorando-nos. Não havia vitrines, quiçá lojas, os restaurantes eram quase secretos, não se os via. As pessoas no metrô eram mais silenciosas, as fotos mais desafiadoras (mas já permitidas). Os moscovitas eram quase impenetráveis. E mesmo assim apaixonei-me desde o primeiro instante; desde a chegada ao aeroporto.
Na segunda vez, em 2008, foi tudo mais tranquilo. Deslumbrei-me com a beleza de São Petersburgo; com os palácios, igrejas, com os canais e com o balet; com a avenida Nevski e com as Noites Brancas. Com o povo na rua aproveitando cada minuto de sol do verão e de um dia que se estendia até depois da meia-noite (o sol da meia-noite)... na Nevski... Um povo já receptivo aos turistas, já um pouco mais acolhedor e curioso.
Em Moscou os velhos “Ladas” iam desaparecendo, as luzes capitalistas se acendendo, a “Velha Arbat” se colorindo, a Tverskaia se congestionando e a Praça Vermelha sempre cheia, mais fotografada que a Torre Eiffel. Moscou também é bela no verão.
Agora em 2015 vi uma Moscou cosmopolita, em franca abertura, jogando o jogo, enfrentando os desafios e problemas advindos de uma transição muito rápida, querendo interagir com os estrangeiros, curiosa e mais acolhedora. (numa manhã ao perguntar a um jovem russo que passava em frente ao hotel onde ficava a estação do metrô ele me levou até lá, pagou o meu bilhete pois eu estava chegando e ainda não tinha Rublos, e ainda me emprestou, ou deu, 50 rublos para eu pagar a volta só pelo prazer de saber do Brasil, do que eu fazia lá, do que eu achava da Rússia. E eu, no meu precaríssimo russo tentei retribuir a sua curiosidade. Fiz um amigo em minutos).  Moscou está recebendo e fazendo muitos investimentos. Hotéis, cafés, restaurantes, lojas, pontos turísticos, galerias de arte, metrô, está tudo muito acessível.
Penso que os russos encontraram em Putin a estabilidade e segurança para que pudessem se desenvolver em plenitude. O russo, um povo educado e patriótico, inteligente e forte, quando de mãos desamarradas constrói coisas grandiosas. E isso é o que vimos em Moscou em todas as áreas: dos hotéis às igrejas, das ruas às empresas, do metrô à moderna Moscou City, da Universidade à Tretiakovskaia Galeria.
Numa reunião com a Associação de Empresários de Moscou, perguntado se ainda alguém sentia saudades do socialismo o russo respondeu: “a Rússia entrou no capitalismo mas ainda guarda muitas coisas do socialismo (as pessoas querem a segurança de um Estado forte, interventor, protetor e que dê garantias)”. Disse que esse era um assunto para ser debatido em outra mesa (num bar) com outro líquido (não água) sobre ela e por muito tempo, ou seja, é um debate ainda aberto “o que se ganhou e o que se perdeu com o capitalismo”. Mas não se fala em volta. Hoje se pode debater livremente e o bom humor russo (sim, o russo é bem humorado, simpático) pode ser externado francamente.
Moscou vive um ótimo momento; muito dinâmico. E como nos disseram por lá, a Rússia passa por Moscou.

O Dia da Vitória
Foi um presente inusitado, um acréscimo, estar em Moscou no dia nove de maio, data em que os russos comemoram do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial (este ano comemorando os 70 anos).
Esse conflito para os russos tem um caráter particular. Em 1941 seu território foi invadido por Hitler em três frentes com três milhões de soldados.  Os russos resistiram feroz e heroicamente à invasão. Para eles essa guerra é chamada de Grande Guerra Patriótica porque foi uma guerra em defesa de sua própria existência enquanto Nação.
Vinte e cinco milhões de russos morreram defendendo o país nos quatro anos de guerra. Venceram os nazistas e os fizeram recuar até Berlim.  Sim, os russos foram os primeiros a entrar em Berlim em 1945, a derrotarem os nazistas e conquistarem sua rendição, dando fim ao projeto de Hitler.
Era feriado nacional no dia 09, e desde cedo milhares e depois milhões de moscovitas saíram às ruas para assistirem aos desfiles militares e prestarem suas homenagens aos heróis da pátria. Milhares levavam cartazes com fotos dos soldados, seus familiares, mortos na guerra; de crianças aos anciões todos com um profundo respeito. Apesar do feriado o metrô estava lotado.
Tive oportunidade de ver andando na rua e acompanhar um veterano da resistência (certamente com mais de 90 anos) acompanhado de sua filha. As pessoas paravam, tiravam fotos, outras muitas lhe entregavam flores, outros batiam continência. Era quase uma veneração.
No desfile militar pude ver o entusiasmo e a identidade que o povo tem com os seus militares.
Bem, essa é a Rússia; Um povo que se lança seguro rumo ao futuro. Um povo forte, educado e culto, que tem exata a noção de Pátria, que pagou um alto preço por sua liberdade e que, por tudo isso, não tenho dúvida será (ou já é) uma peça chave na geopolítica do milênio que recém se inicia.

O Bolshoi – ter ido no Bolshoi e na Galeria Tretiakov de arte russa merecem um outro artigo. O metrô também; e a Praça Vermelha também. O impacto disso tudo para o grupo de brasileiros do nosso MBA que esteve lá também. Escreverei.



segunda-feira, 8 de junho de 2015

E k a t e R i m B u R g o







E k a t e R i m B u R g o

Mais do que a cidade onde foi morto o último Czar da Rússia; mais do que a cidade para onde a indústria foi removida durante a II Guerra Mundial e que abasteceu a resistência ao nazismo; mais do que a cidade “secreta” da era soviética, dos grandes projetos científicos e militares; mais do que a cidade que separa (ou une) a Rússia europeia da Rússia asiática; mais do que a cidade de Boris Ieltsin. Mais também do que a cidade por onde passa a ferrovia Transiberiana a caminho da Mongólia, do Baikal, da China e de Wladivostok, por onde sopra o vento dos Urais...
Ekaterimburgo, uma cidade ensolarada na primavera, foi fundada em 1723 durante o reinado do czar Pedro, o Grande e foi nomeada em homenagem a sua esposa Catarina I, portanto tem quase trezentos anos e desde o seu início possui uma vocação industrial e estratégica para o país. É a quarta maior cidade da Rússia, situada no centro do país. (Senão o centro geográfico, o centro estratégico porque próxima e acessível a grande economia asiática, um dos eixos fundantes da Rússia do futuro.)
Com 1,5 milhões de habitantes, distante dos quase 12 milhões de Moscou e dos quase 5 milhões de São Petersburgo, Ekaterimburgo vive um bom momento. Cidade situada numa zona de muitos recursos naturais, particularmente minerais, tem já uma tradição industrial (mesmo que por muito tempo estatal) é um grande polo científico e de inovação da Rússia.
Capital da região dos Urais, Ekaterimburgo foi sede da reunião dos BRICS em 2009 que examinou os efeitos da crise norte-americana de 2008 para o mundo e hoje vem se consolidando como um grande centro de feiras e eventos internacionais, seja na área da indústria civil ou militar, seja no campo científico e acadêmico, seja na área do comércio regional e internacional, seja voltados para a Ásia, seja voltados para o Ocidente, seja voltados para o Sul.
Em 2018 Ekaterimburgo será uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol e já está se preparando para fazer deste evento uma oportunidade de negócios e de incremento do turismo. Tarefa difícil esta última frente a polarização que exercem Moscou e São Petersburgo nessa área.  Ekaterimburgo permaneceu uma cidade “fechada” durante o regime soviético; era difícil um estrangeiro visitá-la assim como era difícil um cidadão seu deixá-la. Muitos projetos de interesse da segurança soviética eram desenvolvidos ali.
Em recente visita de estudos à cidade tivemos a oportunidade de conhecer grandes indústrias, uma siderúrgica, uma fábrica de lâminas e fios de cobre, entre outras, assim como conhecer a Universidade Federal dos Urais e o seu projeto de desenvolvimento da nanotecnologia. Conversamos com pesquisadores, professores e estudantes. Ficamos satisfeitos ao saber, e conhecer, brasileiros que estão lá se aperfeiçoando.
Reunimos com a Associação Empresarial dos Urais com a qual pudemos constatar o imenso profissionalismo e seriedade com que jovens e novas lideranças da cidade e da região projetam e preparam o futuro. É preciso lembrar que no campo empresarial tudo é relativamente novo na Rússia pois até pouco mais de vinte anos atrás tudo era socialista-estatal. Compreende-se assim a pressa e o empenho em acertar.
Nestes contatos procuramos estreitar relações econômicas, sociais e políticas entre essa cidade e as nossas cidades brasileiras, entre a Rússia e o Brasil, dois grandes dos BRICS que tem muito em comum e ao mesmo tempo tem muito a aprender e ensinar um ao outro.
Pelo que vimos, pela disposição aberta e séria com que fomos recebidos, pelo profissionalismo da postura, pela jovialidade das iniciativas e pela perfeita consciência do momento histórico que estão vivendo podemos afirmar com tranquilidade que Ekaterimburgo e os Urais são peça fundamental na nova Rússia que vemos nascendo.