quinta-feira, 10 de março de 2016

Ivan Turguenev

IVAN TURGUENEV (1818 – 1883)
Julio Pujol


Agrada-me ler Turguenev. Isso é quase uma confissão. Turguenev é fácil. É leve. Lê-lo é como beber um bom copo de água fresca.
            Turguenev é simples. Diferente dos gigantes da literatura russa do século XIX como Tchecov, Dostoiévski e Tolstói, Turguenev não é complexo, profundo, filosófico. Também não é superficial. Penso que está aí o seu mérito. Atingir o simples, e fazê-lo bem, também não é tarefa fácil.
            É como se ele escrevesse para as mocinhas apaixonadas do século XIX, para os salões europeus. Alias, seus escritos parecem não querer tocar no turbilhão transformador da Rússia e da Europa deste século. Um século, diria, de transição, do urbanismo e do capitalismo.
Mas, claro, Turguenev também observa, tem as suas sutilezas. É um homem do tempo. É mundano, moderno, senão seus escritos não teriam atravessado mais de um século, sendo lidos ainda hoje, e sendo colocados como grandes obras da humanidade.
Nascido russo, em Orel, 1818, em uma família de posses, pôde estudar e ter uma vida com certo conforto numa Rússia ainda envolta na servidão (abolida somente em 1861), no analfabetismo e no provincianismo.
Logo que pôde foi para a Europa onde se estabeleceu, e de lá olhava seu país natal com um misto de admiração, nostalgia e desprezo.
Na Alemanha, em Berlim, conviveu com o que de mais avançado havia em seu tempo, seja na literatura quanto na filosofia (particularmente Hegel), e em Baden Baden, conviveu com a “árvore russa”, quer dizer, russos emigrados ou somente em férias, que passavam temporadas neste país. Os russos sempre olharam para a Europa, seja como referência e modelo, seja com superioridade (aquela indiferença típica russa). Isso lhe permitiu manter proximidade com a Pátria nativa.
Contemporâneo dos grandes da literatura russa tinha uma relação também ambígua com eles. De formação europeia, desenraizada da velha Rússia, Turguenev via o seu país de fora; seu espírito crítico e desanimado não era muito simpático na Rússia que buscava afirmar-se como uma grande Nação.
A força da Rússia estava em Tolstói, sua raiz em Puchkin, sua alma em Dostoiévski e Tchecov, sua ironia em Gogol... Mas Turguenev existia. E fez a sua grandeza por outra estrada. Não a estrada dos grandes épicos, do patriotismo exacerbado ou do eslavismo. Os escritos de Tolstói, Tchecov, Puchkin, Dostoiévski, Gogol são universais mesmo partindo da “aldeia” (aliás, aquela frase é de Tolstói); os de Turguenev são cosmopolitas, e olham a Rússia como quem espia para onde vai esse imenso país.
Bom reler Turguenev. Também para mim é como espiar para um jovem (jovial) que também espiava, curioso, de longe, um futuro.
Turguenev corre pelo meu orgânico. Faz parte de minha constituição enquanto ser. Foi emocionante, lá em Petersburgo, dobrar uma esquina e, de surpresa, encontrar uma grandiosa estátua do Conde Turguenev. (lá na Rússia os escritores e poetas tem estátuas e monumentos pelas ruas e praças. E o povo não os depreda; pelo contrário, coloca flores aos seus pés em reconhecimento. É uma coisa de identidade pátria. E Turguenev está lá).
Algumas obras de Turguenev facilmente encontráveis em livrarias no Brasil: “Pais e Filhos”, “Primeiro Amor”, “Ninho de Fidalgos”, “Águas de Primavera”, “Fumaça”, “Mumu”.

É um prazer ler Turguenev.