quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O NAVIO BRANCO



 O NAVIO BRANCO


        Terminei ontem à noite a leitura de "Navio Branco" de Tchinguiz Aitmátov. Desconsiderando o contexto histórico em que foi produzido pode-se dizer um livro bom, mas despretensioso. Quase um conto.
        Mas foi publicado em 1967 na antiga União Soviética que se desestalinizava. Tornou-se um marco na moderna literatura daquele país tanto por sua forma quanto pelo seu conteúdo. Rompeu com o chamado "Realismo Socialista", linha oficial da arte e literatura russa, que normalmente apresentava trabalhadores orgulhosos e honestos, jovens idealistas, mulheres fortes, politizadas e saudáveis, que caminhavam garbosamente para a construção de um grande país e para a construção do socialismo no mundo.
        Aitimátov apresenta como personagens principais um velho desrespeitado pela própria família e um menino, seu neto, abandonado pelo pai e pela mãe. Um encontra no outro um sentido para as suas existências. Apresenta também um tio violento, Orozkul, uma esposa estéril e uma velha resignada e amarga.
A história acontece nas terras dos Quirguizes (Quirguistão, da antiga URSS) e tem um caráter trágico, numa pequena aldeia nas montanhas.
        Permeada por crenças e lendas (então proibidas na União Soviética) a história nos apresenta personagens reais (não daquele realismo), violentos, ternos, com medos, dúvidas, enfim, humanos.
        Faz uma crítica social ao abordar a questão do alcoolismo, da violência doméstica (lembra um pouco "Infância" de Gorki), do poder numa pequena aldeia às margens do lago Issik Kurl por onde passava um "Navio Branco" em que o menino sonhava embarcar para sempre.
        Conta também a lenda da "Mãe Cerva-Galhuda", matriarca do povo Quirguiz e que era a protetora do velho e do menino.
Não é um livro que aborde temas políticos. É singelo.
Uma boa leitura, como eu disse, despretensiosa. Para um interessado na cultura Russo-Soviética, um marco.


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