quarta-feira, 25 de junho de 2014

NICOLAI GOGOL - O novo rei da Espanha

SOBRE O NOVO REI DA ESPANHA

(O Diário de um Louco – Nicolai Gogol)

Um conto definidor e definitivo, como diria um então prefeito, da trajetória de Nicolai Gogol (1809-1852) é “O Diário de um Louco”. Neste conto o autor russo (de origem ucraniana) conta a história de um funcionário público de São Petersburgo que, de um dia para o outro, se descobre o novo rei da Espanha.

            O funcionário Auxence Ivanovitch era apaixonado – e ignorado - pela filha do diretor da repartição onde trabalhava, a bela Sofia. Começa então a imaginar situações e constrói uma lógica só sua. Imagina que se fosse um funcionário graduado ou um general Sofia lhe daria atenção. Não se conforma com sua própria insignificância. Um dia, estranhamente, ouve o cachorrinho de Sofia falar. Depois descobre que ele escreve cartas. E as lê.

Ivanovitch um dia ao ler no jornal notícias sobre a Espanha descobre que o rei daquele país, Fernando VII havia morrido (1833) e o trono estava vago. Depois de vários dias refletindo sobre o assunto dá-se conta que o rei da Espanha, não encontrado, era ele mesmo. E passa a assinar “Fernando VIII”. E assim se apresenta em sua repartição.

            Daí para frente as cenas inusitadas se acentuam até que um dia o “Rei da Espanha” é levado para o seu país por uns homens nobres vestidos de branco. E lá é recebido por uma estranha corte de homens, todos também vestidos de branco e carecas. E aí é vítima de estranhos rituais da nobreza; Lhe espancam e lhe jogam água gelada na cabeça cada vez que revela sua identidade de “Rei da Espanha”.

            Lembrei-me deste conto no dia de hoje (19/06) quando assume realmente (...) o novo rei da Espanha em meio a uma profunda crise no reino (e não estou falando da desclassificação da seleção espanhola na Copa do Mundo na segunda rodada, embora isso seja também emblemático do país). A Espanha continua ainda em uma profunda crise; desemprego de 25% e entre os jovens de 50%; isso é desolador. Uma crise de legitimidade na própria monarquia, um papel de certa forma secundário na União Europeia, crises políticas, ameaça de separatismo da Catalunha e outras regiões.

            A posse de Felipe VI, e mesmo a existência de uma realeza na Espanha, não passa de uma caricatura; uma coisa de doido. Absolutamente anacrônica e despropositada. Digna de um conto do “realismo fantástico” gogoliano.

Gogol: Gogol é o máximo. Outro dia escrevo mais sobre ele. Só para situar: é autor de Taras Bulba e do Inspetor Geral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário