terça-feira, 22 de julho de 2014

DOSTOIÉVSKI - O IDIOTA

O IDIOTA – DOSTOIÉVSKI (Fiodor Mikhailovitchi)



        Terminei de assistir por esses dias a minissérie russa baseada na obra “O Idiota” de Dostoiévski (1821-1881). São dez capítulos de aproximadamente cinquenta minutos cada, em língua russa legendado para o português.

        Como em todas as histórias de Dostoiévski que li (e nesse caso assisti) o roteiro serve apenas de pano de fundo para a expressão exacerbada (exagerada diria Cazuza) do turbilhão interior de cada personagem. O modo de condução dos diálogos e a constituição dos personagens são tão familiares a quem leu ao menos um Dostoiévski que parece que estamos lendo (ou vendo) a continuidade de uma outra história. Mesmo os personagens que não aparecem (porque de fato pertencem a outro romance) parece que já vão chegar, que estão “por ali”. E os personagens que aparecem no “O Idiota” aparentam ter vindo de outra história.
         E assim a trama do Universo dostoiévskiano vai se compondo. “Crime e Castigo”, “Noites Brancas”, “Os Irmãos Karamázov”, “Notas do Subsolo” e até mesmo “O Jogador” compõe um mesmo enredo, uma mesma história, um mesmo cenário, que tem como fio condutor a profunda angústia humana que parece em “O Idiota” atingir o seu ápice. Exceção me parece o “Memórias da Casa dos Mortos” que é mais autobiográfico do período em que o autor ficou preso e exilado na Sibéria no período czarista, muito ao estilo Soljenitsin e seu “Arquipelago Gulag”.
        Abrindo um parêntese, é interessante a leitura destas duas últimas obras para se ter um parâmetro do que era o horror das prisões e exílios na Rússia do tempo dos czares e depois como os comunistas os suplantaram infinitamente em crueldade.
        Parece que pela diversidade de personagens, que dialogam o tempo todo, desfila a mesmice da incompreensão humana. Ao mesmo tempo parece que a mesmice humana se expõe através de uma monótona diversidade de personagens. O homem, um interrogador, um que quer ter valores, posicionar-se com honra neste mundo; um homem que é assolado por baixezas e fraquezas o tempo todo. Eis o universo. Exagerado. De um exagero russo. Toda sua vivência é uma filosofia. Dostoiévski descobriu antes de Gorki a profunda filosofia popular russa. O que eles tem de mais democrático.
       Os personagens: a doce, forte e rebelde Aglaia... Dúnia.., Sônia... O eterno Raskolnikov. Dmitri Karamazov, o Príncipe Michikin, Porfiri Parfion, Liebediev... Kólia... Rogogin... A inconstante, apaixonada, exagerada Grushenka... Nastácia Filipovna...
São personagens marcantes, nos ficam íntimos, embora todos meio loucos (um escândalo de salão, uma briga, um desmaio), se equilibrando no mundo e em si mesmos, seja num discurso amoroso, religioso, filosófico ou político. Nenhum como Raskolnikov. 
        Mas “O Idiota” príncipe Liev Nikolaievitch Míchkin, não era tão idiota assim ou, não mais e não menos que os demais humanos. Dostoiévski não responde. Deixa continuar como que sugerindo que seu escorrer é eterno.
Sobre o filme? Um filme como deve ser: fiel a Dostoiévski, o que não é nada fácil. Fiel aos personagens, aos diálogos, aos cenários e principalmente ao ritmo das histórias dostoiévskianas. Grande achado.

Diretor: Vladimir Bortko
Duração: 502 min
Ano: 2003
País: Rússia

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